
Zé Povinho, Fiado, Toma (c. 1890)
Provérbios portugueses
- A ambição enche a cabeça e cega o coração.
- A cavalo dado não se olha o dente.
- A falar é que a gente se entende.
- A galinha do vizinho é sempre melhor que a minha.
- À galinha que canta como galo corta-lhe o gargalo.
- A ignorância é a mãe de todas as doenças.
- A laranja de manhã é ouro, à tarde, prata, e à noite mata.
- A mulher e a sardinha querem-se da mais pequenina.
- A necessidade aguça o engenho.
- A noite é boa conselheira.
- A ocasião faz o ladrão.
- A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.
- A pensar morreu um burro.
- A preguiça é mãe de todos os vícios.
- A roupa suja lava-se em casa.
- A união faz a força.
- Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura.
- Águas passadas não movem moinhos.
- Amigo não empata amigo.
- Amigos amigos negócios à parte.
- Amigos dos meus amigos, meus amigos são.
- Antes só do que mal acompanhado.
- Antes tarde do que nunca.
- Ao menino e ao borraho põe Deus a mão por baixo.
- As mulheres… se não fossem a falta que fazem… nan faziam falta nenhuma (provérbio alentejano).
- Atrás de mim virá quem de mim bom fará.
- Azeite de cima, mel do meio e vinho do fundo, não enganam o mundo.
- Baleias no canal, terás temporal.
- Boa fama granjeia quem não diz mal da vida alheia.
- Boa romaria faz, quem em casa fica em paz.
- Boca que apetece, coração que padece.
- Boda molhada, boda abençoada.
- Boi velho gosta de erva tenra.
- Burro velho não aprende línguas.
- Burro velho não tem andadura e se tem pouco dura.
- Cada cabeça sua sentença.
- Cada macaco no seu galho.
- Cada ovelha com sua parelha.
- Cada panela, sua tampa.
- Cada panela, seu testo.
- Cada qual com seu igual.
- Cada qual sabe onde lhe aperta o sapato.
- Cada um sabe de si.
- Cada um sabe de si, e Deus de todos.
- Candeia que vai à frente alumia duas vezes.
- Cão que ladra não morde.
- Casa de ferreiro, espeto de pau.
- Casa onde entra o sol não entra o médico.
- Casa roubada, trancas à porta.
- Casarás e amansarás.
- Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
- Chuva de São João, tira vinho e não dá pão.
- Com Melancia, água da companhia, com melão, vinho de tostão.
- Com vinagre não se apanham moscas.
- Come para viver, não vivas para comer.
- Comer e coçar o mal é começar.
- Cria a fama e deita-te a dormir.
- Da mão à boca vai-se a sopa.
- De médico e de louco, todos temos um pouco.
- De noite todos os gatos são pardos.
- Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.
- Depois da tempestade vem a bonança.
- Depois de fartos, não faltam pratos.
- Depressa e bem não há quem.
- Deus ajuda, quem cedo madruga.
- Devagar se vai longe.
- Diz o roto ao nu ‘Porque não te vestes tu?’.
- Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és.
- Dos fracos não reza a história.
- Em abril sacha e semeia que o Céu te abençoa e te remedeia.
- Em casa de ferreiro, espeto de pau.
- Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.
- Em tempo de guerra não se limpam armas.
- Em terra de cegos quem tem um olho é rei.
- Enquanto há vida, há esperança.
- Enquanto houver língua e dedo não há mulher que meta medo.
- Entre marido e mulher, não metas a colher.
- Erva daninha a geada não mata.
- Falar é prata, calar é ouro.
- Filho de peixe, sabe nadar.
- Gaivotas em terra, tempestade no mar.
- Galinha de campo não quer capoeira.
- Gato escaldado de água fria tem medo.
- Grão a grão enche a galinha o papo.
- Guarda o que comer, não guardes o que fazer.
- Guardado está o bocado para quem o há de comer.
- Há males que vêm por bem.
- Homem pequenino, ou velhaco ou dançarino.
- Homem prevenido vale por dois.
- Ignorante é aquele que sabe e se faz de tonto.
- Junta-te aos bons, serás como eles, junta-te aos maus, serás pior do que eles.
- Ladrão que rouba a ladrão, tem cem anos de perdão.
- Longe da vista, longe do coração.
- Lua deitada, marinheiro de pé.
- Lua nova trovejada, trinta dias é molhada.
- Madruga e verás, trabalha e terás.
- Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo.
- Mais vale cair com graça do que ser engraçado.
- Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto.
- Mais vale prevenir que remediar.
- Mais vale ser rabo de pescada que cabeça de sardinha
- Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar.
- Mais vale um pé no travão que dois no caixão.
- Mais vale uma palavra antes que duas depois.
- Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital.
- Manda quem pode, obedece quem deve.
- Mãos frias, coração quente.
- Morreu o bicho, acabou-se a peçonha.
- Muita parra pouca uva.
- Muito alcança quem não se cansa.
- Muito come o tolo, mas mais tolo é quem lhe dá.
- Muito riso pouco siso.
- Muitos cozinheiros, estragam a sopa.
- Não dá quem tem, dá quem quer bem.
- Não há bela sem senão.
- Não há duas sem três.
- Não há fome que não dê em fartura.
- Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe.
- Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça.
- Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu.
- Não vendas a pele do urso antes de o matar.
- Nem contas com parentes nem dívidas com ausentes.
- Nem oito nem oitenta.
- Nem sempre galinha, nem sempre rainha.
- Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.
- Nem tudo o que luz é ouro.
- Nem tudo o que reluz é ouro.
- Nem tudo o que vem à rede é peixe.
- No aperto e no perigo se conhece o amigo.
- No meio é que está a virtude.
- No melhor pano cai a nódoa.
- No poupar é que está o ganho.
- Nuvem baixa sol que racha.
- O bom filho à casa retorna. [Bom filho à casa torna]
- O casamento e a mortalha no céu se talha.
- O futuro a Deus pertence.
- O hábito faz o monge.
- O homem põe e Deus dispõe.
- O ótimo é inimigo do bom.
- O primeiro milho é dos pardais.
- O prometido é devido.
- O que arde cura.
- O que arde cura, o que coça sara e o que aperta segura.
- O que não mata engorda.
- O que não tem remédio remediado está.
- O segredo é a alma do negócio.
- O seguro morreu de velho.
- O seu a seu dono.
- O sol quando nasce é para todos.
- Olho que vê, mão que pilha.
- Os amigos são para as ocasiões.
- Os cães ladram e a caravana passa.
- Os homens não se medem aos palmos.
- Os homens são o diabo, não há mulher que o negue, mas todas elas procuram um diabo que as carregue.
- Os opostos atraem-se.
- Paga o justo pelo pecador.
- Para baixo todos os santos ajudam.
- Para frente é que é o caminho.
- Para grandes males, grandes remédios.
- Para morrer basta estar vivo.
- Para quem é, bacalhau basta.
- Pardais ao milho!
- Passarinhos e pardais não são todos iguais.
- Patrão fora, dia santo na loja.
- Pau que nasce torto jamais se endireita.
- Pedra que rola não cria limo.
- Peixe não puxa carroça
- Pela boca morre o peixe.
- Perde-se o velho por não poder e o novo por não saber.
- Por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
- Por morrer uma andorinha não acaba a primavera.
- Preso por ter cão, preso por não ter.
- Presunção e água benta, cada qual toma a que quer.
- Quando a esmola é grande o santo desconfia.
- Quando a esmola é muita o pobre desconfia.
- Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão.
- Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha.
- Quando um cai, todos o pisam.
- Quando um não quer, dois não discutem.
- Quanto mais pressa, mais devagar.
- Quanto mais te agachas, mais te põem o pé em cima.
- Quem anda na chuva, molha-se.
- Quem avisa, amigo é.
- Quem boa cama fizer nela se deitará.
- Quem brinca com o fogo queima-se.
- Quem canta, seus males espanta.
- Quem cabritos vende e cabras não tem, anda por certo a foder alguém.
- Quem cala, consente.
- Quem casa, quer casa.
- Quem com ferros mata, com ferros morre.
- Quem comeu a carne que roa os ossos.
- Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto.
- Quem corre por gosto não cansa.
- Quem dá aos pobres empresta a Deus.
- Quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar.
- Quem dá o que tem, a pedir vem.
- Quem desdenha quer comprar.
- Quem diz as verdades, perde as amizades.
- Quem diz o que quer, ouve o que não quer.
- Quem é vivo sempre aparece.
- Quem espera sempre alcança.
- Quem está no convento é que sabe o que lhe vai dentro.
- Quem feio ama, bonito lhe parece.
- Quem mais jura mais mente.
- Quem muito escolhe pouco acerta.
- Quem muito fala pouco acerta.
- Quem nada não se afoga.
- Quem não aparece, esquece; mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece.
- Quem não arrisca não petisca.
- Quem não chora não mama.
- Quem não deve não teme.
- Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele
- Quem não sabe é como quem não vê.
- Quem não te conhecer, que te compre.
- Quem não tem cão, caça com gato.
- Quem não tem dinheiro não tem vícios.
- Quem não tem panos não arma tendas.
- Quem não trabuca não manduca.
- Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita.
- Quem nasceu para a forca não morre afogado.
- Quem o alheio veste, na praça o despe.
- Quem o seu cão quer matar chama-lhe raivoso.
- Quem paga adiantado é mal servido.
- Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte.
- Quem parte velho paga novo.
- Quem quer festa, sua-lhe a testa.
- Quem ri por último, ri melhor.
- Quem sabe faz, quem não sabe ensina.
- Quem sai aos seus não degenera.
- Quem se mete em atalhos não se livra de trabalhos.
- Quem semeia ventos colhe tempestades.
- Quem tarde vier comerá do que trouxer.
- Quem te cobre que te descubra.
- Quem tem boca vai a Roma.
- Quem tem burro e anda a pé mais burro é.
- Quem tem capa sempre escapa.
- Quem tem cem mas deve cem pouco tem.
- Quem tem telhados de vidro não atira pedras.
- Quem tudo quer tudo perde.
- Quem vai à guerra dá e leva.
- Quem vai ao ar perde o lugar e quem vai ao vento perde o assento.
- Quem vai ao mar avia-se em terra.
- Quem vê caras não vê corações.
- Querer é poder.
- Recordar é viver.
- Rei morto, rei posto.
- Roma e Pavia não se fizeram num dia.
- Santos da casa não fazem milagres.
- São mais as vozes que as nozes.
- Se em terra entra a gaivota é porque o mar a enxota.
- Se sabes o que eu sei, cala-te que eu me calarei.
- Toda a mentira tem um fundo de verdade.
- Todo o homem tem o seu preço.
- Todos os caminhos vão dar a Roma.
- Tristezas não pagam dívidas.
- Uma andorinha não faz a primavera.
- Uma desgraça nunca vem só.
- Um é para o que nasce.
- Uma mão lava a outra.
- Vão-se os anéis e ficam-se os dedos.
- Vozes de burro não chegam aos céus.
- Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades.
Sobre os meses do ano
Janeiro
- Janeiro: geeiro.
- Em Janeiro, sobe ao outeiro. Se vires verdejar, põe-te a chorar; se vires terrear, põe-te a cantar.
- Janeiro molhado não é bom para o pão, mas é bom para o gado.
- Janeiro frio e molhado enche a tulha e farta o gado.
- Em Janeiro, sete casacos e um sombreiro.
- Em Janeiro, seca a ovelha no fumeiro.
- Em Janeiro, cada pinga mata seu grãeiro.
- Trovão em Janeiro: nem bom canastro nem bom palheiro.
- Se Janeiro não tiver trinta e uma geadas, tem de as pedir emprestadas.
- Luar de Janeiro não tem parceiro, mas o de Agosto dá-lhe no rosto.
- Não há luar como o de Janeiro, nem amor como o primeiro.
Fevereiro
- Fevereiro: rego cheio.
- Fevereiro enxuto rói mais que todos os ratos do mundo.
- Quando não chove em Fevereiro, nem bom prado nem bom celeiro.
- Chuva de Fevereiro mata o onzeneiro.
- Água de Fevereiro enche o celeiro.
- Em Fevereiro, chuva; em Agosto, uva.
- Em Fevereiro, chega-te ao lameiro.
- Fevereiro afoga a mãe no ribeiro.
- Ao Fevereiro e ao rapaz perdoa tudo o que faz, se o Fevereiro não for secalhão e o rapaz não for ladrão.
- Neve em Fevereiro não faz bom celeiro.
Março
- Páscoa em Março: ou fome ou mortaço.
- Enxame de Março apanha-o no regaço.
- Março zangado é pior que o diabo.
- Março, marçagão, de manhã cara de rainha, de tarde corta com a foucinha.
- Em Março, onde quer passo.
- Em Março, tanto durmo como faço.
- Março liga a noite com o dia, o Manel co’a Maria, o pão com o pato e a erva com o sargaço.
- Nasce a erva em Março, mesmo que lhe deem com o maço.
- Sol de Março queima a dama no paço.
- Em Março, chove cada dia um pedaço.
Abril
- Em Abril, mau é descobrir.
- Abril: águas mil, quantas mais puderem vir.
- Em Abril, águas mil, coadas por um mandil.
- A água que no Verão há-de regar em Abril e Maio há-de ficar.
- Abril molhado, ano abastado.
- Se não chove em Abril, perde o lavrador couro e quadril.
- Seca de Abril deixa o lavrador a pedir.
- Abril frio e molhado enche o celeiro e farta o gado.
- Abril frio: pão e vinho.
- Em Abril, queimou a velha o carro e o carril; e uma cambada que ficou em Maio a queimou.
Maio
- Maio hortelão: muita palha e pouco grão.
- Maio couveiro não é vinhateiro.
- Maio pardo faz o ano farto.
- Maio pardo e ventoso faz o ano farto e formoso.
- Maio pardo e Junho claro podem mais que os bois e o carro.
- Fraco é o Maio se o boi não bebe na pegada.
- Fraco é o Maio que não rompe uma croça.
- Guarda para Maio o teu melhor saio.
- Em Maio, comem-se as cerejas ao borralho.
- Em Maio, nem à porta saio.
Junho
- Junho calmoso: ano formoso.
- Junho floreiro: paraíso verdadeiro.
- Sol de Junho amadura tudo.
- Chuva de Junho: peçonha do mundo.
- Chuva de Junho: mordedura de víbora.
- Chuva junhal: fome geral.
- Junho chuvoso: ano perigoso.
- Enxame de Junho nem que seja como punho.
- Em Junho, foice no punho.
- Em Junho, perdigotos como punho.
- Feno, alto ou minguado, em Junho é segado.
Julho
- Julho quente, seco e ventoso: trabalha sem repouso.
- Em Julho, prepara o vasculho.
- Em Julho, ceifa o trigo e faz o debulho. E, com o vento soprando, vai-o limpando.
- Por todo o mês de Julho, o meu celeiro entulho.
- Por muito que Julho queira ser, pouco há-de chover.
- Julho abafadiço: abelhas no cortiço.
- Chuva de Julho que não faça barulho.
- Por muito que Julho queira ser, pouco há-de chover.
Agosto
- Agosto nos farta, Agosto nos mata.
- Quem em Agosto ara, riqueza prepara.
- Quem não debulha em Agosto debulha com mau gosto.
- Quem malha em Agosto malha contra gosto.
- Chuva em Agosto enche o tonel de mosto.
- Chuva em Agosto: açafrão, mel e mosto.
- Quando chove em Agosto, chove mel e mosto.
- Agosto amadurece, Setembro vindimece.
- Agosto tem culpa se Setembro leva a fruta.
- Em Agosto, toda a fruta tem gosto.
- Temporã é a castanha que em Agosto arreganha.
- Seja o ano que for, Agosto quer calor.
- Se queres o teu homem morto, dá-lhe couves em Agosto.
- Em Agosto, ardem os montes; em Setembro, secam as fontes.
- Nem em Agosto passear nem em Dezembro marcar.
- Em Agosto, candeeiro posto.
- Em Agosto, frio no rosto.
Setembro
- Setembro: mês dos figos e cara de poucos amigos.
- Setembro molhado: figo estragado.
- No pó, semearás; em Setembro colherás.
- Em Setembro, ardem os montes e secam as fontes.
- Setembro ou seca as fontes ou leva as pontes.
- Lua nova setembrina sete luas determina.
- Setembro é o Maio do Outono.
Outubro
- Outubro quente traz o diabo no ventre.
- Outubro suão: negaças de Verão.
- Logo que Outubro venha, prepara a lenha.
- Outubro meio chuvoso faz o lavrador venturoso.
- Em Outubro, o sisudo colhe tudo.
- Em Outubro, sê prudente: guarda pão e semente.
- Em Outubro, pega tudo.
- A árvore plantada no Outono tem um ano de abono.
- Se Outubro for erveiro, guarda para Março o palheiro.
Novembro
- Em Novembro, prova o vinho e semeia o cebolinho.
- Se em Novembro houver trovão, o ano seguinte serão bom.
- Cava em Novembro e planta em Janeiro.
Dezembro
- Em Dezembro, treme de frio cada membro.
- Em Dezembro, lenha no lar e pichel a andar.
- Em Dezembro, descansar, para em Janeiro trabalhar.
Conversa com a IA
Segue-se uma breve conversa com o Perplexity sobre a relação entre os provérbios portugueses e a respetiva cultura.
Prompt: Eis uma lista (incompleta) de provérbios portugueses. Deduzir uma síntese sobre a filosofia deste povo.
Perplexity:
Síntese da Filosofia Portuguesa nos Provérbios
- Realismo e Pragmatismo
Os provérbios portugueses são marcadamente realistas, refletindo uma visão prática e, por vezes, desconfiada do mundo. Há uma aceitação das limitações da vida e uma tendência a valorizar o que é possível e concreto (“Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”, “Quem tudo quer tudo perde”, “O ótimo é inimigo do bom”). O pragmatismo também se revela na valorização da experiência e do saber fazer (“Quem sabe faz, quem não sabe ensina”, “Devagar se vai longe”). - Sabedoria Popular e Desconfiança
O português valoriza a prudência e a cautela (“Homem prevenido vale por dois”, “Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém”, “Casa roubada, trancas à porta”). Existe uma certa desconfiança natural perante o excesso de generosidade ou facilidade (“Quando a esmola é grande o santo desconfia”, “Nem tudo o que reluz é ouro”). A experiência ensina a não confiar cegamente e a proteger-se. - Resiliência e Esperança
Apesar do realismo, há uma esperança teimosa e uma crença na superação das dificuldades (“Depois da tempestade vem a bonança”, “Enquanto há vida, há esperança”, “Quem espera sempre alcança”). A resiliência é vista como virtude, e o sofrimento é muitas vezes encarado como parte inevitável da vida, mas que pode ser superado. - Valor da Comunidade e das Relações
Os provérbios sublinham a importância da família, dos amigos e da comunidade (“A união faz a força”, “Amigos, amigos, negócios à parte”, “No aperto e no perigo se conhece o amigo”). Também há advertências sobre os perigos da má companhia e a influência dos outros (“Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”, “Junta-te aos bons, serás como eles”). - Moderação e Equilíbrio
O equilíbrio é um valor central (“Nem tanto ao mar nem tanto à terra”, “No meio é que está a virtude”, “Nem oito nem oitenta”). A moderação é vista como caminho para evitar excessos e problemas. - Aceitação do Destino e da Sorte
Nota-se uma aceitação resignada do destino e da sorte (“O homem põe e Deus dispõe”, “O futuro a Deus pertence”, “Para morrer basta estar vivo”). A vida é vista como uma mistura de esforço e fado, onde nem tudo está sob o nosso controlo. - Ironia e Humor
A ironia e o humor são formas de lidar com as adversidades e com as contradições da vida (“Casa de ferreiro, espeto de pau”, “Preso por ter cão, preso por não ter”, “Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto”). O riso é uma arma contra as dificuldades (“Quem canta seus males espanta”).
Conclusão
A filosofia popular portuguesa, espelhada nos seus provérbios, é de uma sabedoria prática, desconfiada e resiliente, que valoriza a prudência, a moderação, a solidariedade e o equilíbrio. É um povo que aceita as agruras da vida com realismo, mas sem perder a esperança, recorrendo ao humor e à ironia para suavizar as dificuldades. A vida é vista como um caminho de desafios, onde a experiência, a comunidade e a capacidade de adaptação são essenciais para sobreviver e, se possível, ser feliz.
Link: https://www.perplexity.ai/search/59588f89-934c-49e9-a091-f643510836e0
Legenda da imagem
Zé Povinho, Fiado, Toma.
Cerâmica policromada e vidrada das Caldas da Rainha,
Original de Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905), 1890 (c.), edição de 1920 (c.).
Figura criada em 12 jun. 1875 para o periódico Lanterna Mágica, passou a definir o povo português com todos os seus defeitos, as suas virtudes e contradições, mas só bem para os finais do séc. XIX passa à cerâmica, talvez por 1895 a 1898, como tampa de tinteiro e ainda hoje sendo reproduzido de todas as formas, feitios e materiais.
Fábrica de Loiças das Caldas da Rainha.
Museu Rafael Bordallo Pinheiro, Lisboa, Portugal.
Parlamento dos Outros
Secção dos provérbios
Subsecções:
- Provérbios portugueses
- Provérbios escoceses
- Provérbios holandeses
- Provérbios coligidos por Erasmo de Roterdão (1500-1536)
O Parlamento dos Outros é uma iteração de um projeto maior designado Mapas de Democracia.
