
Exposição: “O Que Elas Viram/ O Que Nós Vemos, Mulheres Fotógrafas em Portugal 1860-1920”
Museu do Porto, um museu multipolar que vale a pena ir conhecendo. Cada unidade tem o seu cuidador, ou a sua cuidadora, conferindo diversidade e personalidade, tanto à programação como ao atendimento que cada um destes núcleos oferece a quem os visita.
No verão que já foi fui ver O voo da Águia II — António Carneiro e a literatura, no restaurado Ateliê António Carneiro, um trabalho de fundo do historiador de arte Bernardo Pinto de Almeida que acabará num muito esperado livro.
Depois fui até à Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio, na Rua Nossa Senhora de Fátima, a dois passos de casa, como quase tudo no Porto, e onde vi uma daquelas exposições que nos fazem pensar na grande revisão de que a história de arte, como outras histórias, estão a precisar urgentemente: O Que Elas Viram/ O Que Nós Vemos, Mulheres Fotógrafas em Portugal 1860-1920, resultado de um projeto de investigação, WOMENPHOT.PT (FCT/PeX), com produção artística de Processos e Estudos Tecnológicos, onde podemos ver e apreciar fotografias de Maria C. L. Magalhães, Margarida Relvas e Mariana Relvas.
A família Relvas dava um daqueles filmes de arrasar, mas ainda ninguém se lembrou de fazê-lo. Tal como as vidas de António Carneiro e Soares dos Reis, ou das endiabradas irmãs Aurélia e Sofia de Sousa, artistas que, a par de Amadeo, Júlio, Alvarez e outros revelam, queiramos ou não, uma certa superioridade (numérica) de bons artistas nascidos no norte do país, sem menosprezo para os notáveis artistas de Lisboa (Eloy, Vieira da Silva, Paula Rego, etc.), alentejanos (Henrique Pousão e Álvaro Lapa, entre outros ), açorianos (Dacosta e Lourdes Castro), e ainda o grande mestiço Almada Negreiros, nascido em São Tomé, ou Ângelo de Sousa vindo de Moçambique.
Tanta história por contar, tanta matéria para imaginar!
Por fim, uma nota sobre algo que venho repetindo há anos:
— para quando fazer regressar o Museu do Chiado ao que começou por ser, um museu do Modernismo, em vez de continuar a arrastar as secretárias por uma ambição burocrática (“contemporânea”) sem pernas para caminhar?
De Pousão, Aurélia, Soares dos Reis, Amadeo e Mily Possoz, até Jorge Barradas e Almada, passando por Carlos Relvas, António Pedro e Leitão de Barros, de Teixeira de Pascoaes e Pessoa até Florbela Espanca e Mário de Sá-Carneiro, passando pela Geração de 70 e o grupo ‘jantante’ conhecido pelos Vencidos da Vida, há todo um mundo para fazer do Museu do Chiado, e do Museu Soares dos Reis, os principais museus portugueses dedicados ao Modernismo em sentido amplo, crítico e construtivo, em vez de continuarem a vegetar por aí, como dois enteados da rede museológica nacional; num dos casos até, o pomposamente chamado Museu Nacional de Arte Contemporânea, atrelado a um banco semi-alienado, que para ali ‘exportou’ (em depósito, claro) o acervo da sede que teve que vender!
Links:
WomenPhot.PT
O Que Elas Viram/ O Que Nós Vemos, Mulheres Fotógrafas em Portugal 1860-1920
